Dalboni revelou que, desde o primeiro momento até a chegada no set de filmagem, o processo criativo se deu em uma espécie de “galpão criativo” criado por Luiz Fernando Carvalho. Por lá, foram promovidas oficinas com especialistas na obra de Clarice, debatendo não somente A Paixão Segundo G.H., mas toda a obra e a vida da autora, chegando não a um roteiro, mas à coordenadas e recortes do próprio texto.
“Sempre se dizia se tratar de um romance infilmável. Mas quem deu essa classificação? O romance é muito subversivo por ser inclassificável em seu gênero, sem ser fechado em um ou outro gênero. Talvez por isso dizem que ele é infilmável. A nossa aproximação foi de abraçar justamente essa potência literária. Fomos para o set com um roteiro que nada mais era que o próprio livro, separado por cenas e recortes de fala. Nosso caminho foi o de encontrar um diálogo no monólogo, entre as vozes de uma mulher com ela mesma”, contou a roteirista.
Já Luiz Fernando falou sobre alguns princípios que deram diretrizes para se pensar o filme, como as ideias de polifonia, espirais, fragmentos e recortes. Ele também conversou sobre as bases conceituais que nortearam a criação da imagem do filme, desde o tamanho da tela à forma como a protagonista e o espaço ao seu redor foram filmados, partindo de noções como a de retrato e identidade, tão caras ao texto de Lispector.
“Estamos falando de uma crise de identidade e quando pensamos em imagens de identidade, de carteiras e documentos, falamos sempre em retratos, de dimensão 4:3. Então fizemos isso, construir uma proporção de retrato e trabalhar dentro dele. Criamos uma lente que é uma contradição óptica, grande angular e teleobjetiva ao mesmo tempo. Então Maria Fernando poderia se aproximar sem perdemos partes de seu rosto, ao mesmo tempo em que o contorno e o mundo se esfacela. O que nos permite trazer um olhar bem claretiano, uma narrativa epidérmica, podendo ver o detalhe do detalhe do detalhe do olho”, concluiu o diretor.